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O triste fim do Bispo Sardinha
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Até hoje, todavia, não há consenso sobre o assunto. Para alguns, a animosidade dos Caetés em relação aos portugueses era notória desde a destruição de sua aldeia Marim pelo donatário Duarte Coelho em 1535, lugar no qual viria a ser fundada Olinda. Empurrados para o Cabo de Santo Agostinho e, dali, cada vez mais para o sul, envolveram-se em inúmeras batalhas com os colonizadores lusos. Há quem defenda, porém, que a atribuição da carnificina aos Caetés foi uma farsa promovida pelos 3 sobreviventes de modo a motivar a perseguição à tribo, senhora das valiosas terras que posteriormente serviriam tão bem à próspera empresa açucareira nordestina. Assim, a autoria da tragédia envolvendo o Bispo recairia sobre os Tupinambás, tradicionais habitantes das terras para além da foz do Velho Chico. O fato é que o episódio chamou a atenção do Velho Mundo para o fenômeno da antropofagia, que tinha a vingança como principal objetivo e era praticada por quase todos os Tupi e Tapuia, com requintes tétricos que disseminaram espanto e horror entre os europeus.
As missões em Pernambuco e a tensão em Cimbres
A análise da História Municipal pernambucana revela que a colonização portuguesa do interior do Estado se deu em duas frentes simultâneas, porém com maneiras de agir distintas. A primeira delas consistiu na expansão dos currais de gado ao longo do Rio São Francisco, de modo a fornecer os animais necessários ao trapiche dos engenhos de açúcar da região, bem como o leite, a carne e o couro que servia de alimento e indumentária à população. Tal empresa foi levada a cabo pelos prepostos e escravos da elite branca e sua atitude em relação aos silvícolas resumiu-se à preação e ao extermínio. Em sentido contrário, foram empreendidas pelos religiosos católicos, em particular pelos da Congregação de São Felipe Néri, presente em Pernambuco desde 1660, missões voltadas à catequese dos nativos, até a principal Ordem missionária (a dos Jesuítas) ser banida em 1759 pelo Marquês de Pombal. De todas as missões estabelecidas pelos frades oratorianos, ao redor das quais se organizariam núcleos urbanos como os de Brejo da Madre de Deus, Limoreiro e Tacaratu, a mais importante foi a Missão do Ararobá, na Serra homônima e voltada à assistência dos índios Xucurus.
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Em 1879 foi declarado extinto o aldeamento de Cimbres, cessando a tutela governamental sobre os índios, e suas terras foram entregues à Câmara para redistribuição a título de venda ou cessão a terceiros. Em retaliação, os nativos começaram a atritar-se com aqueles que promoveram o esbulho de seus domínios. Num lugar que se orgulha de haver surgido voltando-se à proteção dos silvícolas, persiste a vergonhosa situação de a demarcação das terras daqueles nunca haver sido efetuada. Tal demarcação vem sendo sistematicamente pleiteada desde 1980, bem como violentamente repreendida pelos cerca de 280 fazendeiros da região, havendo resultado em quase 30 mortes, dentre as quais a do famoso Cacique Chicão. A guerra local certamente não preocuparia tanta gente não houvesse sido a adormecida Cimbres o lugar de aparição de Nossa Senhora em 1936, um dos únicos 5 no mundo reconhecidos pelo Vaticano, razão pela qual muitos fiéis para lá se dirigem. A crise é tamanha que, prevendo os problemas com a tribo, a Prefeitura de Pesqueira criou uma pequena réplica do Santuário ainda no sopé da Serra, de modo a satisfazer os visitantes e evitar os possíveis problemas da aproximação com a ressentida etnia.
As etnias remanescentes
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As duas maiores etnias são a dos Xucurus e a dos Pankararus, com cerca de 3.500 indivíduos cada. Alvo das missões ao tempo da Colônia, professam a fé católica e vivenciam eventos religiosos, como a Festa de Nossa Senhora das Montanhas (Xucurus). É nessas oportunidades, porém, que manifestam suas tradições. Os Pankararus também celebram sua cultura nas reservadas festas do Menino do Rancho e do Flechamento do Umbu. Os Kapinawás, por sua vez, habitam o Parque Nacional do Vale do Catimbau, repleto de lendas e de misticismo. A etnia mais interessante, todavia, é a dos Fulni-ôs. É que eles são os únicos do Nordeste que mantêm viva sua língua, o yathê, transmitida oralmente e por intermédio de uma escola bilíngue que há na reserva. Além da aldeia, a comunidade possui um outro local de moradia, no qual passa os 3 meses do ano em que ocorrem os misteriosos rituais do Ouricuri, espécie de retiro relioso. Além do toré, dançam a cafurna e o côco de roda e possuem um Centro Fitoterápico de Reprodução de Mudas e Essências Medicinais, mantido com o apoio da Fundação Nacional da Saúde e da UNESCO e no qual são cultivadas várias plantas que servem à medicina natural.
A toponímia legada pelos silvícolas
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