sexta-feira, 12 de março de 2010

100 coisas para não perder em Pernambuco - Parte 1

1. Marco Zero e Parque das Esculturas - A Praça mais famosa do Recife, centro nevrálgico do Bairro do Recife Antigo, km 0 de todas as distâncias do Estado e na qual acontecem os principais shows do período momesco, é decorada com o belo painel "A Rosa dos Ventos", do prestigiado artista plástico pernambucano Cícero Dias. De lá se observa o Parque das Esculturas, do também ilustre artista plástico Francisco Brennand, sobre o molhe dos arrecifes que emprestaram nome à Capital (travessia de barco ou, de carro, via Boa Viagem/Brasília Teimosa), com destaque para a sua célebre e controvertida Torre de Cristal, um obelisco de 32m que, inspirado em uma flor silvestre descoberta por Burle Marx, homenageia o célebre paisagista brasileiro, autor de vários projetos na cidade (ver item 21). As preservadas edificações em estilo eclético ao redor da Praça - Instituto Cultural Banco Real, Associação Comercial e Bolsa de Valores - datam do início do Século XX.

2. Bairro do Recife Antigo - Foi aqui, num istmo espremido entre o mar e a foz dos Rios Capibaribe e Beberibe, que, há quase 5 séculos, o Recife nasceu como porto de Olinda, explorando sua vocação natural. Quando os holandeses chegaram em 1630, o Bairro já existia de forma consolidada, sofrendo poucas intervenções, como o acréscimo de uma muralha fortificada. Durante essa época de tolerância religiosa, aliás, surgiu na Rua dos Judeus, atual Rua do Bom Jesus, a primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel (1636), hoje Centro Cultural Judaico. Expulsos os flamengos, seus membros partiram para a Ilha de Manhattan, na qual fundaram a futura Nova Iorque, então chamada de Nova Amsterdã. Ao lado da Sinagoga está o Memorial dos Bonecos Gigantes (ver item 31), guardando exemplares dos famosos bonecos de Olinda, e, mais à frente, na Praça do Arsenal, a Torre de Malakoff (1853), observatório astronômico em estilo oriental tunisiano de cujo alto se descortina uma das mais belas vistas do charmoso Bairro.

3. Ensaio dos maracatus - Durante os finais de semana, o Bairro do Recife Antigo ferve. O movimento começa cedo, na badalada feirinha da Rua do Bom Jesus, na qual é possível encontrar o melhor do artesanato e da gastronomia locais. Aliás, em frente à Sinagoga é possível saborear algumas iguarias típicas da culinária judia. As ruas do Bom Jesus e da Moeda concentram os principais bares e restaurantes da área, muito procurados pelo público alternativo e pelos turistas. Mas a principal atração do fim de tarde são mesmo os maracatus, expoentes por excelência da música folclórica pernambucana afro-brasileira. Espalhados pelas antigas ruas, entoam a trilha sonora do peculiar passeio pelo Bairro, por isso uma experiência das mais singulares. Permita-se, já que é plenamente possível, bastando conversar com os integrantes, participar dos ensaios, dançando ao som do batuque ritmado ou mesmo tocando algum instrumento.

4. Paço Alfândega e Livraria Cultura - O edifício da antiga Alfândega, situado ao lado da belíssima Catedral da Madre de Deus, ambos edifícios do Século XVIII, foi reformado e passou a abrigar o Shopping mais elegante da cidade, o Paço Alfândega, numa bela combinação entre colonial e contemporâneo com o dedo do premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha, ganhador do Pritzker. Merecem destaque o átrio central, com o belo painel armorial de Francisco Brennand no piso, baseado em desenhos de Ariano Suassuna, a preservada arcada e o elevador panorâmico, tudo iluminado pela arrojada cúpula, bem como a magnífica vista do Rio Capibaribe, do mar e do Bairro de Santo Antônio que se tem do mirante. Não bastasse o atrativo do sofisticado centro comercial, ao seu lado está a famosa Livraria Cultura, ponto de encontro predileto dos intelectuais recifenses, com constante programação artístico-cultural e um dos melhores cafés da cidade.

5. Praça da República - A privilegiada área, no encontro dos Rios Capibaribe e Beberibe, corresponde ao que antigamente era o Palácio de Friburgo (ou das Torres), imensa e ajardinada residência do Conde Maurício de Nassau e parte integrante do projeto da Cidade Maurícia. Nada restou dessa época, salvo alguns alicerces em ruínas e a idéia de que é dali que se deve governar o Estado. Não é de surpreender, pois, que a Praça, uma das mais bonitas e seguras do Recife e na qual se destaca um centenário baobá, abrigue atualmente o Palácio do Governo (de 1841, dito do Campo das Princesas em homenagem às princesas Leopoldina e Isabel, filhas do Imperador D. Pedro II e que costumavam ali brincar quando o edifício acolheu o Paço Imperial, em 1859), além do imponente Palácio da Justiça (1930), ambas construções ecléticas, e o neoclássico Teatro de Santa Isabel (1850), um dos teatros-monumento do Brasil. Não só é possível, como impreterível visitá-los.

6. Legado holandês (1630-1654) - Infelizmente, pouco ou quase nada restou daqueles áureos dias, tão orgulhosamente rememorados pelos pernambucanos, em que, sob o comando do Conde Maurício de Nassau, o Recife capitaneava a próspera colônia holandesa na América do Sul, baseada no lucrativo comércio do açúcar. A Cidade Maurícia, complexo administrativo-residencial implantado pelo mecenas, ocupava o atual bairro de Santo Antônio. Além do traçado original das ruas e dos fortes - das Cinco Pontas, também Museu da Cidade, ao lado do qual foi executado Frei Caneca e no qual esteve preso Graciliano Ramos, tendo escrito suas "Memórias do Cárcere"; e do Brum -, reportam à época a Ponte Maurício de Nassau (1643/1917, ver item 9), a primeira das Américas, então uma construção em madeira e onde aconteceu o famoso episódio do boi voador, e o inestimável acervo do Instituto Ricardo Brennand (ver item 22), bem como do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico e do Museu do Estado.

7. Capela Dourada - A obra-prima da arquitetura religiosa pernambucana é uma pequena capela incrustada no conjunto franciscano que inclui o Convento de Santo Antônio, com belos painéis de azulejos portugueses, a Igreja da Ordem Terceira e o Museu de Arte Sacra, localizados na Rua do Imperador, ao lado da Praça da República. Erguida entre os Séculos XVII e XVIII em estilo barroco, do qual é expressão por excelência, é assim chamada porque as magníficas talhas de cedro que a revestem, semelhantes às existentes na Igreja de Santo Antônio de Faro, no sul de Portugal, encontram-se todas cobertas por finas lâminas de ouro de 22 quilates, uma ostentação que, em representando o poderio das elites tradicionais do Estado - quais sejam, a aristocracia rural vinculada à empresa açucareira, a nobreza e as ricas irmandades católicas -, só encontra paralelo no Nordeste na também franciscana Igreja de São Francisco, em Salvador.

8. Rua da Aurora - "Na Madalena revi teu nome, na Boa Vista quis te encontrar, Rua do Sol, da Boa Hora, Rua da Aurora vou caminhar" (Pelas ruas que andei, Alceu Valença). De todas as ruas do Recife, evocadas em célebres poesias e canções (ver item 11), a mais famosa é, sem dúvida, esta charmosa via que, situada no Bairro da Boa Vista, acompanha a margem esquerda do Rio Capibaribe, voltando-se para o nascente. Seus sobrados e edifícios públicos do Século XIX constituem uma das mais belas e conhecidas paisagens da cidade, com destaque para os neoclássicos Museu de Arte de Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) - o mais importante do gênero no Estado, com obras de Abelardo da Hora, Aloísio Magalhães, Cícero Dias, Francisco Brennand, Gil Vicente, João Câmara, Paulo Brucksy e Vicente do Rego Monteiro, dentre outros -, Palácio Joaquim Nabuco, sede da Assembléia Legislativa, com sua famosa cúpula dourada, e Ginásio Pernambucano.

9. Passeio de catamarã sob as pontes - A razão de o Recife ser nacional e internacionalmente conhecido como "a Veneza Brasileira" reside não somente em sua peculiar geografia, formada por istmos e ilhas separados por rios - e, portanto, não em uma série de ilhas lacustres conectadas por canais como na similar italiana -, mas no charme de suas pontes, as famosas Giratória, Maurício de Nassau (a primeira), Buarque de Macedo, Princesa Isabel, Duarte Coelho (na qual acontece o Galo da Madrugada, ver item 10), da Boa Vista (a mais bonita) e Velha. Ligando os Bairros do Recife, de Santo Antônio e da Boa Vista, elas conformam o cartão-postal por excelência da Capital, inspirando gerações e gerações de pernambucanos e visitantes. A melhor forma de conhecê-las? Navegando de catamarã (a partir do Forte das Cinco Pontas), de onde se tem uma vista privilegiada das principais atrações do Centro, especialmente à noite, quando está tudo iluminado.

10. Carnaval do Recife e Galo da Madrugada - E não é apenas na geografia e nas pontes que o Recife guarda semelhanças com Veneza: o Carnaval de rua é o terceiro elemento a fomentar a comparação. Mas em Pernambuco, um dos "quatro cantos do país", é o frevo das Vassorinhas, o maracatu, a ciranda e o mangue beat que dão o tom da festa popular, a qual tem início uma semana antes da data oficial no Bairro do Recife. É no sábado, todavia, que, como canta Alceu Valença, "o Carnaval começa no Galo da Madrugada", o maior desfile de bloco carnavalesco do mundo segundo o Livro dos Recordes, reunindo mais de 1 milhão de pessoas pelas ruas do Centro, em volta da alegoria gigante posicionada na Ponte Duarte Coelho. Na Noite dos Tambores Silenciosos, sempre à meia noite de domingo no Pátio do Terço, os maracatus prestam homenagem aos escravos mortos em cativeiro. A festa, dita Multicultural, prossegue no entorno do Marco Zero, palco dos principais shows.

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